Liturgia Semanal

Inspirado nas Meditações Bíblicas. Irmãs Dominicanas de Taulignan. Supl. Panorama. E. Bayard. Paris.

13 de abril de 2012

II DOMINGO DE PÁSCOA – 15/ABRIL/2012 DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA


Actos 4, 32-35 ; Sal 117, 2-4.16-18.  22-24 ; 1João 5,1-6 ; João 20,19-31

Um só coração e uma só alma

A imagem de unidade que transparecia nas primeiras comunidades cristãs, descritas nos Actos dos Apóstolos, faz-nos sonhar e, ao mesmo tempo, enche-nos de esperança. Só podemos ficar perturbados pela paz e partilha entre os irmãos (ãs) que tinham aderido à fé e sorrir com a descrição da sua organização. Todavia, se o autor persiste em evidenciar esta realidade, é porque para ele O Espírito dO Ressuscitado estava bem presente em acção e nada podia vir unicamente das suas vontades próprias. Para se poder alcançar “um só coração e uma só alma” e pôr de lado tudo o que cria a divisão e a perturbação, é necessário colocar no centro das relações o perdão e a reconciliação.

No domingo em que festejamos a Divina Misericórdia recordamos esta realidade que incessantemente impele os homens para o mais íntimo de si mesmos. A actualidade do mundo apresenta-nos com frequência a triste constatação de conflitos de todos os géneros, geradores de muitas vítimas inocentes. Onde estará então o amor de Deus pelos homens, perante toda esta violência cega que parece nunca terminar? E, se o bem existe como proclamam os cristãos, como fazê-lo surgir e perdurar? O perigo está em nos comportarmos como os Apóstolos após a morte de Jesus : em ficar amedrontados, com as portas aferrolhadas à espera de dias melhores. O Senhor, que conhece a nossa perturbação, vai porém à frente dos seus e dá-lhes a Sua Paz com abundância para que se reergam viventes. Tomemos resolutamente o caminho da confiança e da misericórdia de Cristo: Ele envia-nos para construirmos a comunhão e a fraternidade pelO Espírito !

QUEM É O VENCEDOR DO MUNDO ? A 1ª epístola de S.João fala-nos do triunfo da fé sobre o mundo, entendido no seu sentido pejorativo de “conjunto de todas as forças que nos levam a negar Deus, tal como revelado em Jesus-Cristo, e a dobrar-nos sobre nós mesmos tornando-nos fonte e finalidade de tudo, afundando-nos no orgulho e/ou no desespero”. Mas, afinal, o que será a fé ? O final do capitulo 4 pode ajudar-nos a precisar um seu aspecto fundamental : “aquele que ama a Deus e ama também o seu irmão”. Neste contexto, a fé é pois uma fé que se empenha e caminha a par com o amor. Nada tem a ver com o vago sentimento de confiança ou com a confissão dos lábios esquecida da sua aplicação prática. Aliás, no comentário à epístola, Sto Agostinho recorda que os demónios também são capazes de confessar Jesus como “filho de Deus” (Marcos 1, 24 ; Mateus 8, 29). Assim, o que qualifica a fé autêntica é o seu peso de amor, único critério que nos permite discernir que somos verdadeiramente (re)nascidos de Deus. As palavras desta epístola podem parecer muito distantes do nosso doloroso quotidiano.  Como poderá ser “leve” (Mateus 11,30) o duplo mandamento do amor, incluindo os inimigos, os que nos caluniam, os que nos são indiferentes, esquecendo-nos de nós próprios, ultrapassando-nos, etc. ? É por isso que Sto Agostinho nos diz : “onde estiver o amor nada é apertado”. Sobrepondo-se a tudo, pelo nosso baptismo, tornamo-nos participantes da vitória pascal de Cristo (Romanos 8, 37), de que podemos recolher os frutos. Então, saibamos pedir a Deus o Seu socorro e bebamos da fonte dos Sacramentos e da Palavra.

“Vem, Senhor, porque o nosso coração não repousa enquanto está longe de Ti”. Liturgia do Mosteiro Beneditino de Keur Moussa, Senegal, fundado em 1961