Mártires coreanos, canonizados por João-Paulo II em 1984,
na visita à Coreia do Sul comemorativa dos 200 anos da implantação do
cristianismo (comunidade cristã única na história da Igreja pois foi iniciada
só por leigos).
Actos 9, 26-31 ; Sal 21, 26-32 ; 1João 3,18-24 ; João
15,1-8
Os discípulos “enxertados” em Cristo
A vinha, os sarmentos, a cepa:Jesus fala escolhendo exemplos
tirados da vida de todos os dias dos Seus ouvintes. Deus toma assim um rosto
concreto e familiar. O primeiro convite deste domingo será talvez “falar d’Ele
a partir das realidades, simples e quotidianas”. Não devemos procurá-lO fora da
nossa existência ! Apenas aí Jesus nos fala. Dirige-Se aos Seus. A comparação à
cepa e aos sarmentos ilustra o elo vital entre Jesus e os discípulos. Os
“discípulos-sacramentos” é da sua ligação à cepa que recebem a seiva da vida e
da fecundidade. Depois Jesus vai mais longe e espanta todos os que O seguem : “Permanecei em Mim como Eu em vós”. Como se poderá
“permanecer” em alguém ? A comparação à vinha e aos sarmentos é transversal ao
conjunto da passagem do Evangelho.
O verbo “permanecer em (ou sobre)” repete-se
pelo menos oito vezes com actores diversos: Jesus, a cepa, os discípulos, as
palavras. Os discípulos devem assegurar-se que estão “enxertados” na cepa que é
Cristo. O verbo “permanecer em” reforça essa ligação única entre a videira e os
sarmentos. Mas, porque será Jesus a “verdadeira” vinha ? Porquê avisar os
discípulos que, para Jesus, eles serão Seus discípulos, se eles já agora o eram
? João redige este Evangelho (último a ser escrito) alguns anos depois dos
acontecimentos da Páscoa. Por isso pensa na situação concreta dos discípulos no
tempo depois da Páscoa. O discípulo cristão prende-se inteira e vitalmente aO
Senhor ressuscitado. Se ficar no seu lugar formará apenas Um com Ele. Os
sarmentos desenvolvem-se, resistem e dão fruto, graças à videira. Ao nível da
fé, O evangelho a anunciar se estiver separado de Jesus (verdadeira vinha que
leva à Verdade de Deus) ficará morto e estéril sem poder fazer nada. O Senhor
Jesus está hoje vivo, com a Vida divina, junto de Deus Seu Pai. A Sua vida nova
circula em todos os sarmentos que “permanecem” em Cristo. Então, com toda a
certeza eles hão-de manifestar a vida nova e divina recebida dO Senhor.
COMPANHEIRO DE TODAS AS NOSSAS TRAVESSIAS. Para nós, o
evangelho de hoje evoca os textos de grandes místicos. Permanecer em Deus pode
significar orar, encontrar n’Ele o repouso e a paz. Não esqueçamos porém que
Jesus profere estas palavras no momento em que ia “sair deste mundo para O
Pai”. Antes de Se entregar à experiência da Sua Paixão e Ressurreição, Jesus
convida os discípulos a ficarem em comunhão de destino com Ele: “Permanecei em
Mim”, significa “Atravessai coMigo os barrancos das trevas e da violência e
permanecei coMigo até à vida plena da Ressurreição”. Os discípulos são chamados
a ter confiança total, o que os levará a colocarem suas vidas nas mãos de Deus
embora continuando bem enraizados no mundo. E Jesus acrescenta “como Eu em vós”
: promessa da Sua Presença, do Seu sopro vivificador. Os discípulos podem
recordar-se do caminho percorrido : Cristo derramará entre eles, ainda a
ternura e a misericórdia que sempre lhes prodigalizou, e há-de dar-lhes esse
espaço benfazejo onde recuperarão as forças.
Então permaneçamos n’Ele, sem fugir às realidades do mundo
numa espiritualidade desencarnada, empenhando -nos em levar as alegrias e os
sofrimentos com Cristo, para assumirmos a nossa humanidade.