A sua eleição em Outubro de 1958 surpreendeu, mas longe
de ser o papa de transição que esperavam, Angelo Roncalli manifestou maturidade
e sensibilidade pastoral. Em Janeiro de 1959 anunciou a convocatória de um
Concílio Ecuménico que viria a ser um novo Pentecostes em toda a assembleia dos
crentes em Cristo. Morreu com a paz dos pobres em espírito sem ver os frutos da
sua extraordinária obra.
Deuteronómio 4, 32-34. 39-40 ; Sal 32, 4-6. 9.18-20.22 ;
Romanos 8,14-17 ; Mateus 28,16-20
Interroga os tempos antigos !
O Deuteronómio apresenta-se sob a forma de três discursos
atribuídos a Moisés. O discurso de hoje terá sido pronunciado no limiar da
entrada na Terra Prometida. O Povo parou aí, após 40 de peregrinação no
deserto, mas não era ainda tempo de repouso. Israel é hoje aqui convidado a
fazer uma releitura do passado, não para cultivar a nostalgia dos “tempos
antigos” mas sim para melhor viver o presente. Os versículos recordam-nos a
importância das pausas na caminhada para se interrogar a vida que vivemos –
pessoal, eclesiástica, humana – e nelas descobri os traços de Deus, sejam eles
grandes perturbações ou toques discretos, que nos levam a fazer a experiência da
salvação e do amor gratuito.
Não passará por aí a caminhada indispensável para se chegar
à Terra Prometida do nosso coração onde, como cristãos, acreditamos que Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo, tem a Sua morada ? E aí que somos chamados a parar
para escutar a Palavra e beber nas fontes vivas do amor, e a “adorar em
espírito e verdade” (João 4,23).
DEUS TRINDADE. “Eu acredito em Deus…” Haverá profissão de fé
mais fundamental que esta ? No dia em que a Igreja nos recorda que Deus é
Trindade, a pergunta é legítima : “Em que acreditamos nós ?”. Para alguns o
sinal da cruz deixou muito cedo de ter qualquer segredo porque os pais e os
avós nos ensinaram a fazê-lo no sentido correcto e com a mão certa… Depois,
aprendemos no catecismo que “Deus é três pessoas: O Pai, O Filho e O Espírito
Santo”, e a catequese ensinou-nos a chamar a isto um “mistério”. Só mais tarde,
quando a relação com O Pai, com Cristo e com O Espírito Santo, se tornou
regular e fundada no mais íntimo da própria vida, descobrimos que um mistério é
afinal uma revelação. O mistério desvenda-se à medida que o vivermos. Compreendemos
então que Deus Se torna Alguém que já não é assunto da inteligência mas
interrogação do coração. Nesta relação com Deus, somos chamados a permanecer
vigilantes e interrogar-nos sobre a imagem que d’Ele temos. Seremos nós
daqueles que pensam que Deus deveria fazer desaparecer todo o mal da terra ? Que
Ele fiscaliza cada um dos nosso (maus!) passos ? Que intervém quando bem
entendemos ? É grande a tentação de fabricar um “Deus” à nossa imagem. Para se
ultrapassar a nossa falsa imagem de Deus há que trabalhar a vida inteira. Todavia,
se mantivermos uma relação interpessoal com O Pai, O Filho e O Espírito, Deus
quebrará essa falsa imagem que d’Ele fizermos. Trata-se de uma passagem com
muitas dúvidas e solidão, no fim da qual experimentaremos ser Deus maior que o
nosso coração.
No dia em que a Igreja celebra Deus na Sua Trindade,
deixemos que Deus seja “Deus em nós”. Onde houver amor e caridade, Deus estará
presente.