Liturgia Semanal

Inspirado nas Meditações Bíblicas. Irmãs Dominicanas de Taulignan. Supl. Panorama. E. Bayard. Paris.

1 de junho de 2012

DOMINGO DO PENTECOSTES – 27/MAIO/2012


Actos 2,1-11 ; Sal 103, 1ab. 29bc-31. 34 ; Gálatas 5,16-25 ; João 15, 26-27; 16, 12-15

Sopro do Pentecostes

A efusão dO Espírito em Jerusalém pode contemplar-se não apenas como resposta à oração fervorosa de Maria e dos Apóstolos reunidos no Cenáculo, mas, igualmente, como realização da promessa de Cristo ressuscitado no momento em que – ao abençoar os Seus pela última vez – lhes assegurou que em breve enviaria O Espírito para ficarem revestidos de poder (Lucas 24, 49). Nesta despedida, Jesus referiu ainda uma condição indispensável para a Missão: terem sido testemunhas da Ressurreição e acompanhado desde o início o Seu ministério. “Vós que estais coMigo desde o princípio, dareis testemunho de Mim”.

 Pedro não esqueceu estas palavras pois bem sabemos como, após a Ascensão, quando foi nessessário reconstruir o grupo dos Doze e substituir Judas (Actos 1, 21-23), não mandou fazer nenhuma lista com as qualidades do candidato ideal porque havia essa condição prévia: ter acompanhado Jesus desde o baptismo até à Ascensão. Diante de um mundo hostil ao Evangelho, os Apóstolos hão-de sentir-se sem recursos mas nunca ficarão sós; O Espírito Santo será a partir de agora o seu tutor, o seu Defensor. Jesus chama-O de “Paráclito”, ou seja alguém que virá para junto deles e permanentemente os acompanhará : “Eu vou pedir aO Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco; Espírito de verdade que o mundo é incapaz de acolher pois não O vê nem O conhece ; vós é que O conheceis porque habita convosco e está em vós”  (João 14,16-17).
 “Meu Deus, eterno Paráclito, eu Te adoro, Tu que és a Luz da minha alma”. Cardeal Newman (1801-90).“Vem, Luz verdadeira, vem tesouro sem nome…Vem, Tu que Te tornaste desejo em Mim”. Simão, o novo teólogo (949 -1022).
 Existem vários elementos identificadores que nos dizem estarmos na presença de uma manifestação divina, de uma teofania, quando Deus Se revela e dá : som forte, vento ou brisa ligeira, fogo (por ex : Êxodo 19, 26). Foi igualmente assim que os Apóstolos “ficaram cheios dO Espírito Santo” que os transformou profundamente e fez capazes de anunciarem a Boa-Nova.
Os Actos dos Apóstolos insistem particularmente na capacidade de falarem outras línguas e de se fazerem entender pelos estrangeiros. Circunstâncias que nos recordam acontecimentos bíblicos como o da construção da Torre de Babel e a confusão das línguas que aí se gerou, relatadas no cap.11,1-11 do Livro do Génesis. Segundo a tradição judaica a Torre de Babel era uma empresa totalitária que pretendia subjugar tudo e todos, afrontando o próprio Deus, com uma ideologia caracterizada pela vontade de poder absoluto. A Torre de Babel ajuda-nos a compreender melhor o cap.2 dos Actos dos Apóstolos da liturgia de hoje, cuja perspectiva é radicalmente diferente: convite da Igreja para que não nos deixemos fascinar por semelhantes “unidades”enganosas. O problema, de facto, não está em ter que se falar a mesma língua – de “estar no mesmo barco”, como escreveu o filósofo André Néher (1914-88) – mas antes, em nos encontrarmos com o outro nas suas diferenças. Para isso devemos aceitar que Deus habite o nosso coração, ultrapassando a tentação – particularmente forte em tempos de crise – de nos fecharmos no “clã” a que pertencemos.

Então, anunciaremos as maravilhas de Deus.