Liturgia Semanal

Inspirado nas Meditações Bíblicas. Irmãs Dominicanas de Taulignan. Supl. Panorama. E. Bayard. Paris.

17 de abril de 2014

DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR – 13/ABRIL/2014



Isaías 50, 4-7 ; Sal 21. 8-9.17-18a.19-20. 23-24 ; Filipenses 2, 6-11 ; Mateus 26,14--27, 66

UMA MULTIDÃO NUMEROSA. As leituras deste domingo de Ramos que inicia a Semana Santa, a grande semana cristã, evocam todas uma singular caminhada de Cristo com a multidão, símbolo da humanidade inteira, acompanhando-O na Sua aventura humana com a qual a nossa está indissoluvelmente ligada. Jesus faz uma entrada em Jerusalém, simultaneamente triunfal e humilde, semelhante à Sua entrada neste mundo ; a pequena jumenta, diferente dos cavalos de combate, é disso sinal. Mas haverá aos olhos de Deus outros triunfos que não sejam fruto da humildade ? “Não tenhas medo deste rei, a Sua humildade é a tua segurança e a tua felicidade”.

Depois passa-se deste texto triunfal, sem triunfalismo, à leitura da Paixão. É a mesma caminhada que prossegue pelas ruas da cidade de Jerusalém como através do tempo dos homens. A humildade deu mais um passo, pois a jumenta foi enviada de volta, e Cristo continua o Seu caminho a pé. Mas depressa, como para significar que Ele não caminha na terra na ponta dos pés, e que a terra deve ficar marcada pelas Suas pegadas para sempre, Ele carregará a Cruz cujo peso contribuirá para agravar mais o Seu sofrimento moral. Mas vejamos ainda um pouco a multidão. Até ao fim, até ao Calvário, alguns levarão as palmas agitando-as e cantando: “Hossana !” Esses serão felizes pois terão ainda nas mãos e lábios a aclamação para o domingo de Páscoa. Outros terão os rostos endurecidos, símbolos de corações fechados. Nos carrascos (de todos os tempos) as palmas transformam-se em chicotes e cordas de flagelação.



No quadro de JESUS A CAMINHO DO CALVÁRIO com a cruz às costas, Jerónimo Bosch (1450-1516) lança um olhar sem compaixão sobre a pobre humanidade. O “mau ladrão” (em baixo à direita, com a corda ao pescoço) está hediondo, deformado pelo mal, como na maioria das representações tradicionais. Mas aqueles que o insultam bem como o resto da multidão que invectiva Jesus e o bom ladrão (no alto á direita), são igualmente horrendos. Todos os rostos estão desfigurados pelo vício, pela irritação, pela violência e bestialidade : os olhos esbugalhados e as bocas desdentadas, abertas, prontas a morder. Todos são cúmplices do mal e procura-se em vão Aquele que pode resgatar os outros. Porém, Ele está lá, no centro deste desgraçado mundo. A paz que emana da Sua face põe em evidência o ódio que desfigura os outros rostos. Ele,“O mais belo dos filhos dos homens”(Sal.45,3), cala-Se.  Jesus tem os olhos fechados e ora : no meio da violência, procura a intimidade dO Pai, oferece já o perdão.

Além de Simão de Cirene (do qual só vemos as mãos na cruz) e da Verónica que, com o sudário limpou a rosto de Cristo, ninguém cuida d’Aquele que é o templo dO Espírito. Verónica, que furou a multidão e lhE enxugou rosto, contempla no linho a imagem de quem veio trazer a todos a salvação e a graça.